segunda-feira, 2 de maio de 2011

Gráficos de Escolha de Estrutura Cicloviária

A decisão sobre como devem ser organizados os espaços de circulação de ciclistas depende de vários fatores. Alguns trabalhos e manuais apresentam gráficos para orientar essa decisão.
As figuras de 1 a 3 apresentam gráficos de trabalhos europeus. A figura 4 apresenta um gráfico resultante da agregação de informações de alguns manuais norte americanos.

Figura 1
Fonte: Adaptado de Transport for London
Dentre os trabalhos estudados, houve uma tendência maior dos manuais europeus de segregarem o tráfego de ciclistas conforme aumenta o volume e a velocidade dos veículos motorizados trafegando pela via, quando comparados com os trabalhos norte americanos. Em contrapartida, nestes últimos houve uma tendência maior de utilização da faixa da direita de largura maior, que denominei de faixa larga (wide curb lane).

Figura 2
Fonte: Adaptado de Danish Road Directorate
É possível verificar que os gráficos apresentam diferenças razoáveis nos resultados e nos conceitos utilizados,  mesmo entre os gráficos das figuras 1, 2  e 3, retirados de manuais europeus. No entanto, as informações desses gráficos podem ser utilizadas como referências para estudos mais detalhados.
A utilização direta desses gráficos como ferramentas de determinação de como deve ser organizado o espaço cicloviário pode resultar em falhas graves, sendo, portanto, desaconselhável.

Figura 3
Fonte: Adaptado de Scottish Executive Publications

Figura 4
Fonte: Adaptado de King
É importante que, além do volume e velocidade dos veículos motorizados, outros fatores sejam considerados na decisão sobre como organizar os espaços cicloviários:
1 - a largura das faixas;
2 - a permissão de estacionamento na via;
3 - a frequência com que veículos param e saem das vagas de estacionamento;
4 - a proporção dos tipos de veículos (principalmente dos veículos pesados);
5 - a variação temporal do fluxo;
6 - a quantidade de interseções e acessos a garagens;
7 - a inclinação da via;
Essas são algumas das variáveis conhecidas e utilizadas para determinação do tráfego de veículos motorizados. Esses fatores também influenciam o tráfego de ciclistas e, portanto, devem ser considerados na organização dos espaços cicloviários.

Existem outras variáveis não tão usualmente consideradas, mas que gostaria de adicionar:
1 - o tipo de condutor de bicicleta (adulto ou criança, experiente ou  inexperiente)
2 - a tolerância dos ciclistas às imposições do tráfego no sistema viário;
3 - o volume de tráfego de ciclistas;
4 - a adesão às regras de trânsito, ou seja, conforme o número de usuários do sistema viário que infringem as  normas de trânsito, pode ser avaliado, por exemplo, que é importante utilizar medidas de moderação de tráfego ou mesmo segregar o tráfego de ciclistas;
5 - a maneira como o ciclista, em determinados lugares, é encarado pelos motoristas - em regiões onde a utilização da bicicleta é mais comum, ou onde o planejamento cicloviário já vem considerando as necessidades dos ciclistas há um determinado tempo, pode haver um respeito maior aos direitos dos condutores de bicicleta, e nesse caso pode ser avaliado que a segregação do tráfego de ciclistas seja menos necessária.

É de grande valia utilizar a experiência que determinados países e autores possuem no planejamento cicloviário, mas é importante  lembrar que gráficos e recomendações de trabalhos devem ser sempre utilizados de acordo com as avaliações das condições específicas onde serão aplicadas. Um exemplo trivial é o gráfico da figura 3, que afirma que para determinadas condições de congestionamento é inviável a circulação de ciclistas na pista; no entanto, determinadas larguras de faixas de trânsito podem permitir que haja espaço suficiente para que os ciclistas trafeguem com segurança enquanto os veículos motorizados estejam parados ou trafegando em velocidades baixas.

O número de variáveis a serem consideradas é muito grande e a falta de estudos cicloviários no Brasil torna a escolha das estruturas cicloviárias um trabalho muito difícil. No nosso caso é especialmente importante que as secretarias de trânsito e transporte tenham funcionários com grande experiência no uso da bicicleta como modo de transporte, ou que utilizem a experiência de ciclistas e/ou consultores da área.


- DANISH ROAD DIRECTORATE. Collection of Cycle Concepts. Danish Road Directorate, 2000.
KING, M. Bicycle facility selection: a comparison of approaches. Chapel Hill: Pedestrian and Bicycle Information Center - Highway Safety Research Center - University of North Carolina, [200-?].
SCOTTISH EXECUTIVE PUBLICATIONS. Cycling by design: network links. Disponível em: <http://www.scotland.gov.uk/library2/cbd/cbd-06.asp>. Acesso em: 15 de dezembro de 2005.
TRANSPORT FOR LONDON. London cycling design standards. [2006?].


Um comentário:

  1. Telmo: Achei muito interessante a sua postagem de metodologias de escolha da infraestrutura cicloviária. Por acaso vc chegou a fazer algum trabalho comparativo entre elas? Se chegou poste também. abs. Meli SP

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