quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ciclovia = Planejamento Cicloviário ?

Fonte: Adaptado de Scottish Executive Publications


LEI Nº 9.503 DE SETEMBRO DE 1997


ANEXO I
DOS CONCEITOS E DEFINIÇÕES
CICLO - veículo de pelo menos duas rodas a propulsão humana.
CICLOVIA - pista própria destinada à circulação de ciclos, separada fisicamente do tráfego comum.


Dicionário Caldas Aulete:
separado
1. Que se separou; isolado, que está à parte.
2. Diz-se dos cônjuges cujo matrimônio foi dissolvido.
3. Afastado, apartado.


O planejamento cicloviário ainda é pouco aplicado no Brasil. A ciclovia é a parte mais conhecida do planejamento cicloviário, que é um conceito muito mais amplo que ciclovia. A ciclovia é apenas uma das várias possibilidades que temos disponíveis. A ciclovia possui características específicas, com vantagens e desvantagens, que precisam ser ponderadas criteriosamente no momento da decisão de utilizá-la em determinado local, de modo a avaliar se ela realmente é a melhor opção.
Pelo fato de ser separada fisicamente, sua implantação pode resultar em inadequações às necessidades dos condutores de bicicleta (problemas de segurança, aumento das distâncias percorridas, dificuldade de acesso a determinados destinos, etc).


A separação física implica intrinsecamente em algum tipo de restrição.
- imagine o exemplo de uma avenida de mão única, com várias lojas; 
- imagine agora uma ciclovia posicionada no lado direito dessa avenida; 
- imagine que você que ir, de bicicleta, numa loja x no meio de um quarteirão, do lado esquerdo da rua; 
- por causa da separação você então vai ter que continuar pedalando até o final da quadra, desmontar da bicicleta e atravessar a rua como um pedestre; 
- agora que você atravessou a rua, para voltar para a loja você não pode voltar a pedalar, pois teria que fazer isso na contramão; 
- você entao vai ter que empurrar a bicicleta até a loja. 
- enquanto isso alguém, por exemplo, de carro, tem a possibilidade de chegar à mesma loja, sem essa restrição, parando na frente dela.

Quis através dessa situação particular ilustrar um dos efeitos da separação física, já que muitas pessoas, em especial aquelas que não usam a bicicleta como modo de transporte, não imaginam que possa haver desvantagens geradas por essa restrição.


Alguns estudos alertam para o fato de que as ciclovias, assim como as ciclofaixas, podem diminuir os acidentes nas áreas intermediárias às interseções, mas que podem aumentar os problemas de segurança nas áreas de interseção propriamente ditas. Acostumados com a falta de interação com outros tipos de veículos devido aos trechos segregados, determinados motoristas e ciclistas podem ser surpreendidos, nas interseções, por veículos surgindo de locais diferentes daqueles que estes consideram como mais prováveis (em breve pretendo publicar uma postagem sobre interseções). Determinados motoristas podem também cometer erros do tipo "olhou, mas viu".

Segundo Transport for London [2006?], na região onde está sendo considerada a construção de uma ciclovia, mas há um número significativo de vias transversais, pode ser factível fechar o acesso a algumas delas ou mesmo convertê-las em vias de sentido único (para que veículos não cruzem a ciclovia), de modo a diminuir a necessidade de interrupção da ciclovia nesses pontos. Recomenda, caso essas medidas não sejam apropriadas, que a ciclovia como opção mais adequada seja questionada.

Uma alternativa para posicionamento de ciclovia é estabelecê-la no canteiro central de determinadas vias. No entanto, essa escolha deve ser avaliada com EXTREMA cautela, não apenas porque nesse local não haverá necessidade de "roubar" espaço dos veículos motorizados. Esse tipo de ciclovia, em geral, exige que os ciclistas tenham que atravessar a via tanto pra entrar na ciclovia como para sair dela - e esses pontos de entrada e saída são, na maioria das vezes, problemáticos.
É também muito importante providenciar conexões com todas as vias transversais à via onde esteja situada essa ciclovia, mesmo com aquelas que não cruzem a ciclovia; caso contrário os ciclistas terão dificuldades tanto para sair da ciclovia e acessar essas vias transversais como para acessar a ciclovia a partir delas - lembrando que esse pontos de acesso são muito perigosos, pois determinados motoristas podem não notar a presença de ciclistas uma vez que não há a ameaça de veículos motorizados ("olhou, mas não viu").
A possibilidade desse tipo de ciclovia de canteiro central ser adequada encontra maiores chances em regiões (por exemplo, áreas industriais) onde as quadras sejam grandes, o número de acessos a destinos seja menor (poucos estabelecimentos, em alguns casos, ocupando toda a quadra) e o volume e a velocidade dos veículos motorizados sejam altos.

As ciclovias, de maneira geral, mas especialmente as situadas em canteiros centrais, podem acrescentar tempos de viagem, distâncias percorridas, assim como incômodos tais que podem fazer com que determinados ciclistas considerem que as vantagens oferecidas por elas não sejam suficientes para que eles decidam utilizá-las. É o caso bastante comum, de ciclovias que são implantadas e a utilização é baixa apesar de haver muitos ciclistas na região, terminando por serem utilizadas mais por ciclistas com objetivo de lazer ou para caminhadas.

Apesar de tudo que mencionei, entendo que existem locais em que a separação pode trazer mais vantagens que desvantagens. A minha intenção é apenas deixar evidente que a ciclovia não é NECESSARIAMENTE a melhor, NEM A ÚNICA, opção.

Coloquei o gráfico, no início desse texto, como recurso visual para mostrar que existem outras alternativas. Peço gentilmente que você leia o texto "Gráficos de Escolha de Estutura Cicloviária" antes de optar por usar esse gráfico, pois há uma série de considerações a serem feitas com relação ao seu uso. Obrigado.

SCOTTISH EXECUTIVE PUBLICATIONS. Cycling by design: network links. Disponível em : <http://www.scotland.gov.uk/library2/cbd/cbd-06.asp>. Acesso em: 15 de setembro de 2005.
TRANSPORT FOR LONDON. London cycling design standards. [2006?]. Disponível em: <http://www.tfl.gov.uk/businessandpartners/publications/2766.aspx>. Acesso em: 21 de dezembro de 2006.

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